Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), os primeiros dois meses de trabalho da CPMI foram marcados pela tentativa de aliados do governo de “blindar os poderosos”. “Foram dois meses de trabalho e, infelizmente, só se olhou um lado e se blindou completamente o outro. Nesses 60 dias, só se buscou reforçar uma narrativa goela abaixo, com oitivas que nada têm a ver com o dia 8 de janeiro. A gente não está conseguindo investigar pelo sequestro da CPMI que foi feito pelo governo Lula. O interesse é apenas blindar os poderosos. Mas a população está acompanhando, e acredito que essas narrativas vão ser quebradas”, disse Girão.
A comissão parlamentar mista de inquérito tem 819 requerimentos pendentes de votação. A maior parte deles sugere novos depoimentos: são 504 pedidos de convocação e 31 convites. A oposição quer ouvir sete ministros do presidente Lula: Flávio Dino, da Justiça e da Segurança Pública; José Múcio Monteiro, da Defesa; General Marcos Antonio Amaro dos Santos, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Rui Costa, da Casa Civil; Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais; Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social; e Márcio Costa Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Os governistas, por outro lado, querem a convocação do general Augusto Heleno, ministro do GSI durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro.
Um pedido apresentado durante o recesso sugere a convocação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
De acordo com o requerimento, após a quebra do sigilo telemático do tenente-coronel Mauro Cid foram encontrados comprovantes de depósitos em dinheiro em uma conta bancária dela.
Os parlamentares apresentaram 158 requerimentos para a quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático. Uma parte dos pedidos se refere a empresas, sindicatos e pessoas físicas suspeitas de participação ou financiamento dos atos.
Outro lote de requerimentos busca alcançar figuras públicas. Há pedidos para a transferência de dados sigilosos do ex-presidente Jair Bolsonaro, do empresário Luciano Hang, do ex-deputado federal Daniel Silveira (RJ) e da mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid. Também há pedidos para a transferência de sigilos do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do general Marco Edson Gonçalves Dias
CPMI ouvirá ex-diretor-adjunto da Abin na terça
A CPMI do 8 de Janeiro retomará os trabalhos depois do recesso parlamentar com o depoimento do ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha. A oitiva está marcada para 3ª feira (1º.), às 9h.
Cunha foi alvo de 5 requerimentos de convocação. Ele ocupava o cargo na Abin no dia dos atos extremistas. Assumiu a direção da agência em janeiro deste ano até que o novo diretor-geral do órgão fosse aprovado em sabatina no Senado. Cunha deixou a função em 2 de março. Depois, assumiu o cargo de chefe da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), em 13 de abril.
Poucos dias depois de sua nomeação, em 19 de abril, foram reveladas imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto no 8 de Janeiro mostrando que Gonçalves Dias, então ministro do GSI, estava no prédio durante as invasões.
No mês passado, em 2 de junho, Cunha foi dispensado do cargo no gabinete. O órgão afirmou que a demissão foi motivada “em face do processo de reestruturação que passa o Gabinete de Segurança Institucional, e a consequente necessidade de realocação de cargos para outras estruturas do Gabinete”.
Cunha ingressou na Abin em 1999. Foi coordenador-geral de Relações Institucionais.
Tribuna do Norte