Além de enfrentar a dor pela morte de um ente querido, familiares de Gerde Luís Xavier Damasceno, de 63 anos, vítima fatal da covid-19, ainda precisaram lidar com um erro na liberação do corpo para o sepultamento. De acordo com o filho do homem, o corpo do seu pai foi trocado com o de outra pessoa e sepultado por outra família.
“O hospital me ligou para comparecer e fiquei sabendo do falecimento dele. Eu já havia acertado com o serviço funerário para pegar o corpo às 18h, com o sepultamento marcado para as 19h. Eu cheguei no horário para identificar o corpo. Fui ao necrotério para fazer a liberação “, explicou.
Em entrevista à TV Tropical, ele acrescentou que, ao chegar ao local, foi informado que o corpo do pai já tinha acontecido a liberação. “Uma pessoa olhou para o documento e disse que já tinha sido liberado. Eu questionei e disse ‘não pode, eu sou o filho único e não autorizei ninguém'”, contestou.
Sem o corpo, não houve enterro. De acordo com o familiar, até parentes de outros estados associados para a despedida. Curiosamente, Gerde Luís acabou sepultado no mesmo lugar que seria. No entanto, por outra família.
Ainda de acordo com o filho, o Hospital do Coração afirmou que iria entrar em contato com a família que enterrou o homem. “Ficou acertado do hospital chamar a família para conversar. O corpo que deveria ter sido sepultado ficou no cemitério. Eu cheguei a olhar e, realmente, não era o meu pai”, finalizou.
Gerde Luís foi internado em 9 de março com a covid-19. Há quatro dias, o quadro apresentado piora e ele não resistiu. O aposentado já havia perdido um filho, de 36 anos, vítima da doença, em fevereiro.
Vicente Henrique Belmont, sobrinho da vítima e advogado, prometeu entrar na Justiça para conseguir exumar o corpo e fazer o sepultamento no túmulo da família. “O corpo dele foi sepultado e vai ser necessário fazer a exumação para enterrar no lugar correto. Creio que a exumação só será feita por ordem judicial. E, por se tratar de covid-19, vai levar um tempo. Não sei se dois ou três anos. Esse processo doloroso para exumar e finalmente conseguir sepultar o corpo “, afirmou.
Em nota, o Hospital do Coração lamentou a troca dos corpos e disse que está dando assistência às duas famílias envolvidas no caso. No documento, a direção da unidade hospitalar ainda justificou o ocorrido e admitiu uma falha no processo de identificação dos corpos.
“O filho de um dos pacientes, ao comparecer ao necrotério do hospital, fez o reconhecimento do corpo do outro paciente falecido como sendo o corpo do seu pai. Houve ainda falha do setor responsável ao não seguir nosso protocolo de conferência dos documentos necessários para a liberação do corpo para o sepultamento, o que contribuiu para a ocorrência constrangedora e inaceitável “, estilo.
O homem que identificou o cadáver erroneamente também falou à TV Tropical e explicou como foi o processo de identificação que o levou ao erro. “Na verdade, não é um reconhecimento. O corpo é apresentado através de um vidro, meio turvo, e esse corpo tinha várias gases e tampões na face, o que já dificuldade a identificação, aliado ao estado cadavérico que também dificuldade. O que restou para identificar o formato do rosto “, disse.
Abalado com a situação, ele ainda lamentou ter de enterrar o pai duas vezes. “Jamais gostaria de passar por uma situação dessa e foi-me dito que o corpo do meu pai era aquele. Descobrimos que enterramos uma pessoa errada quando o hospital me ligou. Eles assumiram o equívoco. Teremos mais dor, porque, ao que tudo indica, vou ter que seputar meu pai duas vezes “, pontuou.
O Cemitério Morada da Paz, local onde o corpo foi sepultado, mas pela família errada, também se posicionou sobre a confusão. Em nota, a administração afirmou que não participou do processo de identificação do corpo e que seguiu os protocolos vigentes para o sepultamento.
“O Grupo Morada esclarece que realizou o sepultamento no cemitério e crematório Morada da Paz, em Emaús, no caso da troca de corpo ocorrida em um hospital privado de Natal, seguindo todos os trâmites legais do serviço. O Morada da Paz não participou do processo de reconhecimento do corpo “, esclareceu.
Portal Tropical