A extinção do Farmácia Popular aumentará o número de internações e de óbitos no Brasil, afirma Henrique Trada, presidente-executivo da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac). A possível finalização do programa surge em meio a discussões da equipe econômica do governo, que pretende angariar recursos para a criação do novo programa social, o Renda Brasil.
No entanto, para a Alanac, além de influenciar no número de mortes, o fim do Farmácia Popular poderá elevar os gastos da União com a saúde pública, já que o programa tem “uma atuação preventiva e sua extinção causaria a descontinuidade do tratamento de muitas doenças graves”. “O custo de uma internação é muito superior ao da medicação preventiva.
Para uma pessoa que tem hipertensão, o medicamento custa na faixa de R$ 3 cada caixa com 30 comprimidos. Já a possibilidade de não tomar o medicamento [por falta de distribuição acessível] pode causar infarto ou um acidente vascular cerebral, por exemplo. Com isso, o custo do tratamento aumenta, porque será necessário arcar com internação, outros medicamentos, os aparelhos utilizados e até fisioterapia para recuperação do paciente. Sem contar o aumento no número de óbitos, que é o pior de tudo, né?”, explica Henrique Trada .
tualmente, há entre a equipe de Paulo Guedes, ministro da Economia, o entendimento de que o Farmácia Popular, por atender toda a população sem critérios socioeconômicos, é ineficiente. Entretanto, Trada reforça os amplos benefícios da iniciativa e defende que, se realmente necessário, o programa sofra apenas adequações. “Para nós, não teria necessidade [de reajustar o programa]. Se a pessoa tem pressão arterial elevada, por exemplo, independente da renda dela, o programa deve abranger.
Pela ótica do governo, o Farmácia Popular atende pessoas com boas rendas e que teriam condições de pagar pelos medicamentos. Então, se este é o problema, que faça um ajuste, mas não uma extinção de um programa que teve êxito para a saúde pública. Pessoas carentes não podem deixar de ter acesso a esses remédios”, afirma.
Historicamente, o Farmácia Popular é voltado para oferecer medicamentos com baixos custos à população. Criado em 2004, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa busca ser “mais uma alternativa de acesso da população aos medicamentos considerados essenciais”, sendo entendido como uma das “principais diretrizes da Política Nacional de Assistência Farmacêutica”, segundo informa o próprio site do Ministério da Saúde. Para isso, a iniciativa oferece remédios para doenças crônicas como asma, diabetes e hipertensão, entre outros, gratuitos ou com descontos de até 90%.
Somente em 2019, segundo dados citados pela Alanac, mais de 21 milhões de pessoas foram atendidas pelo programa. No entanto, este número deve ser ainda maior em 2020, já que, com a crise econômica causada pela pandemia da Covid-19, muitas pessoas recorreram ao benefício. “A demanda por medicamentos, de forma geral, aumentou por causa da pandemia. Se aumenta a demanda e, ao mesmo tempo, temos uma falta de emprego por causa de áreas da economia que foram muito afetadas, a procura por medicamentos de baixo custo ou gratuitos cresce também.”
Com informções da JovemPan.