Menina de 8 anos morre de Covid-19 e mãe implora por ‘vacina para crianças’

Após a filha Ana Luísa dos Santos Oliveira, de 8 anos, morrer por complicações da Covid-19, a mãe e vendedora Valkíria Alice dos Santos, de 39 anos, disse ao g1 que a família, já imunizada, torcia para que a liberação da vacina para crianças acontecesse logo.

“Eu creio que, se ela tivesse tomado, poderia ter pego, mas não desse jeito. Seria fraco, e não tão agressivo do jeito que foi. Tem que liberar essas vacinas para as crianças”.

Moradora do Distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá, no litoral de São Paulo, ela explica que a filha não tinha qualquer diagnóstico de comorbidades. “A única coisa que ela tinha era rinite alérgica. Ela era gordinha, mas era uma criança saudável, não tinha diabetes, não tinha colesterol, brincava normal, estava indo à escola. Eles falaram ‘mãe, devido a ela ser gordinha, pode ter sido um fator que contribuiu para ela não conseguir a cura’”.

A família suspeita que ela tenha contraído o vírus em uma das idas à escola. “Aqui em casa não foi. Creio que foi no colégio, após liberarem o retorno de 100% [da capacidade]. Às vezes, as crianças não têm sintomas”.

De acordo com a vendedora, todos os familiares já tomaram a segunda dose, e alguns já até receberam a dose de reforço. “Por que aconteceu com a minha filha? Ela era muito cuidadosa. Creio que, se estivesse vacinada [seria diferente]. As crianças precisam, acham que não pegam, mas elas pegam, sim”, diz.

“Ela tinha medo, era muito cuidadosa, a mais cuidadosa da casa. Tinha uma bolsinha só com a máscara, álcool em gel, lavava a mão, chegava da escola e tomava banho, às vezes eu queria dar uma caminhada, e ela falava para colocar a máscara. Não era aquela criança que não queria usar. Quando ela ficou dodói, falou ‘mãe, estou com Covid-19?’. Falei que estava, mas que ela ia ficar boa. Ela era bem calma, não se desesperou, mas Deus quis levar ela, meu anjinho”, lamenta.

A vendedora reforça que a vacinação e os protocolos sanitários ainda são importantes. “Continuem usando máscara, usem álcool em gel, a Covid-19 não acabou. Aqui em casa, a gente falava que, graças a Deus, ninguém pegou nesses anos todos, mas de repente veio esse baque. Não é que a gente desleixou não, mas aconteceu essa fatalidade com ela. Não sei se foi na escola, por mim eu nem levava, mas ela queria muito, acho que estava cansada de ficar tanto tempo dentro de casa”, lembra.

“Eu peço para os pais tomarem cuidado com as crianças, os que pensam que [a doença] é fraquinha. Eu também pensava, os sintomas nem apareceram, e quando fui ver, já tinha tomado conta dela. Eu não demorei para correr com a minha filha para o hospital, fui na hora certa, e o médico falou isso. Só que foi tão traiçoeira, foi muito rápido. 

Fiquem em cima das vacinas. Se funcionou para nós, vai funcionar para as crianças também”, afirma.

Valkíria diz que a filha não teve sintomas de resfriado, e que estava com a boca inchada, mas por causa de um dente que estava mole e caiu. “Ela não queria comer, teve febre, levei ela no médico, na pediatria infantil do São João, e ele falou que era dengue. Fizemos todos os cuidados, repouso, mas até aí, crente que era dengue. Ela ficou com uma tosse muito estranha, levei ela no médico, que falou que poderia ser suspeita de Covid-19”.

Segundo a vendedora, a filha ficou internada de 11 de novembro a 12 de dezembro, quando faleceu. “Quando tirou o raio-X, viram que os pulmões dela estavam muito congestionados. Ela foi andando normal, mas a saturação dela estava muito baixa, e colocaram a gente em isolamento. Fiquei com ela junto na Unidade de Terapia Intensiva [UTI] do Hospital Guilherme Álvaro, intubaram ela, tentaram de tudo, foi um mês de muita oração, muita fé, mas Deus recolheu ela”, diz.

“Fiquei um mês com ela na UTI, não queria vir para casa, queria ficar lá, conversando muito com ela, falando que ia ficar bem. Depois de um tempo, ela intubou, aí tiraram, ela deu uma boa melhorada, depois o período de Covid-19 passou e veio uma infecção em decorrência da doença. Muito remédio forte, não sei se poderia ter ficado com sequela, o médico disse que poderia, foi muita medicação, saturação muito baixa, chegou a 11. Dentro desses altos e baixos, eu lá junto. Ela estava sofrendo muito, Deus quis recolher a minha pequena. Agora que estou assimilando, mas é tudo muito estranho para mim”, relembra.

Prestes a completar 9 anos em janeiro, Ana Luísa era uma criança muito amorosa. “Não era aquela criança birrenta, tinha muito amor. Era ‘mamãe, eu te amo’ toda hora. Quando eu ia trabalhar, dava tchau até eu virar a esquina. Gostava muito de TikTok, de dançar, gostava muito de melancia. São detalhes que vou guardar para o resto da minha vida. Ela era muito feliz. Foi um anjo que passou por esses oito anos na minha vida, que eu jamais vou esquecer. Ela deixou uma planta de amor, um legado de amor e de pureza”.

“Amo muito a minha filha. Só quero que Deus conforte mais meu coração, [pois] não é fácil perder um filho. Nunca imaginei perder minha filha, principalmente para essa doença. Deus é misericordioso, pegou a minha filha e levou porque estava sofrendo muito naquela UTI, eu vi tudo, eram vários procedimentos, várias coisas que eu falava ‘Deus, o que é isso?’. Vão ficar muitas lembranças boas e o coração cheio de amor porque ela passou muito amor para mim”, finaliza.

A Prefeitura de Guarujá informou que, desde março de 2020, quando foi decretada a pandemia de Covid-19, o município registrou, além do falecimento de Ana Luísa, mais dois óbitos de crianças menores de 12 anos.

G1

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *