O Brasil está a menos de dois meses de implementar o PIX, ferramenta de pagamentos instantâneos criada pelo Banco Central, que entra em vigor em 16 de novembro. O serviço será gratuito para pessoas físicas e funcionará 24 horas por dia, em qualquer dia da semana.
O feito significa um grande passo rumo à desburocratização dos serviços financeiros no país. Isso porque, para realizar uma transação, não serão mais necessárias informações como número de agência, conta e CPF – basta ter um QR code ou a chamada “chave PIX”, que pode ser o número de CPF ou de celular, um endereço de e-mail ou até mesmo uma combinação numérica escolhida pelo usuário. Os recursos já estarão disponíveis para registro a partir de 5 de outubro.
Segundo o líder do laboratório de inovação da consultoria Capco no Brasil, Manoel Alexandre Silva, o PIX agrega simplicidade ao sistema bancário brasileiro, que já é destaque mundial em termos de desenvolvimento.
“Nosso sistema bancário é absolutamente diferenciado. Tanto é que o recurso da biometria, por exemplo, surgiu aqui dez anos antes do que nos Estados Unidos. Esperamos um movimento que traga a ampliação do acesso aos serviços bancários e facilite a vida das pessoas”, afirma.
“É muito fácil porque você aponta a câmera do seu celular para o QR code e pronto. Você pode imprimir seu QR code e deixar na carteira. Um feirante pode imprimir e deixar pendurado na barraca dele. O BC tem uma grande expectativa de que o recurso seja adotado inclusive por pequenos empreendedores”, completa.
Cerca de 50 países do mundo aderiram ou cogitam aderir a ferramentas de pagamentos semelhantes ao PIX. De acordo com o chefe adjunto do Departamento de Competição e Estrutura do Mercado Financeiro do BC, Carlos Brandt, a autoridade financeira analisou o que estava sendo realizado em outros países e extraiu subsídios para a construção do projeto.
“Único, o PIX não é inspirado em nenhuma jurisdição específica, e talvez seja um dos ecossistemas de pagamento mais amplos que se tem quando olhamos para a experiência internacional. Ele serve para qualquer tipo de transação e será capaz de acomodar todos os tipos de pagamento envolvendo pessoas físicas, empresas e o governo”, diz.
O chefe adjunto do Departamento de Tecnologia da Informação do BC, Caio Fernandes, afirma que a análise da concorrência foi importante também do ponto de vista da segurança, um dos principais pilares do PIX. “Nós procuramos olhar para outros sistemas de pagamento que existem no mundo, coletar o que há de melhor e aprimorar aspectos que deixaram brechas para casos concretos de ataques cibernéticos ocorridos em outros países.”
Para Silva, a tecnologia do PIX é simples, mas cercada de muita segurança. “A novidade do BC é baseada em um conceito de troca de mensagens instantâneas que circulam em um canal criptografado e autenticado em todas as pontas, o que torna o processo integralmente seguro.”
“Quando você gera um boleto, por exemplo, que é um meio de pagamento bastante comum aqui no Brasil, você não sabe exatamente para quem está indo, e isso gera uma certa insegurança. Com o PIX, não – o processo é muito mais transparente e garantido”, completa.
Os especialistas do BC ressaltam que apesar de a transação ser praticamente instantânea – até 10 segundos –, o PIX dispõe de um tempo adicional de 30 minutos durante o dia e uma hora durante a noite para que possam ser identificadas eventuais atividades suspeitas.
“Com isso, o prestador de serviço pode rever uma transação e colocá-la em análise para averiguar se houve ou não uma situação de fraude”, diz Brandt.
A agilidade da transação foi um fator que levou a entidade a agregar um mecanismo extra de segurança. “Quando você faz uma consulta de uma chave PIX, vêm agregados a ela alguns dados extras, algumas informações que nos ajudam a fazer uma escoragem, uma nota do quão perigosa é aquela chave em uma transação”, afirma Fernandes.
“Entre as informações, podemos citar, por exemplo, tempo de criação da chave e quantas transações foram realizadas sem que houvesse nenhum tipo de questionamento de fraude”, completa.
Além disso, segundo Brandt e Fernandes, o projeto conta com um grupo técnico composto por várias instituições especialistas em segurança que trabalharão para buscar soluções para eventuais vulnerabilidades identificadas.
“O corpo será permanente, isto é, funcionará mesmo depois da fase de implantação do PIX, monitorando todas as situações de eventuais preocupações quanto a fraude”, diz Brandt.
O PIX promete ser um instrumento que oferece muitos benefícios e agilidade ao sistema financeiro do Brasil. Apesar disso, Brandt garante que o BC não tem a pretensão de torná-lo um substituto dos demais meios de pagamento hoje existentes, mas sim colocar mais uma alternativa à disposição da sociedade brasileira.
“Alguma substituição, seja de TED, DOC, cartão de crédito ou boleto, certamente haverá. Resta saber apenas qual será a magnitude desse fenômeno.”
R7