O último mês do ano foi escolhido pela SBD para promover a campanha “Dezembro Laranja”, que tem o objetivo de conscientizar sobre os riscos da doença e a importância da fotoproteção. A edição de 2021 tem o tema “Adicione mais fator de proteção ao seu verão”, que incentiva a necessidade de aliar a proteção contra o câncer de pele com o respeito aos cuidados contra o coronavírus.
O médico dermatologista Guilherme Gadens ressalta que além da exposição ao sol, a genética também contribui para o diagnóstico da doença. “Existem algumas características individuais. Pessoas com pele clara, olho claro, cabelo claro ou ruivo são mais propensos ao câncer de pele. Histórico na família ou da própria pessoa já ter tido são fatores importantes, mas certamente a radiação solar tem um papel mais intenso no desencadeamento da maioria dos casos”, diz o profissional, que também é membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A dermatologista Conceição Câmara, que atende na Liga Contra o Câncer, reforça que os cuidados no verão devem ser intensificados, principalmente nas regiões litorâneas mais quentes, como na capital potiguar, por exemplo. “O câncer de pele é um dos mais comuns no Brasil, que, como um todo, é um país quente, tropical. A nossa cidade aqui também, então é preciso ter muito cuidado em não ficar muito tempo exposto. Nós aqui no Nordeste estamos próximos da Linha do Equador, então o índice de radiação é muito alto”, afirma a médica.
Segundo os especialistas, a doença é provocada pelo crescimento anormal das células que compõem a pele. As células se espalham e acabam formando camadas, que definirão o tipo de câncer. “O câncer de pele é uma proliferação descontrolada de alguma célula da pele, que tem uma relação muito direta com a exposição solar. A radiação solar é o grande fator de risco para o câncer de pele e aí ele pode gerar problemas locais na pele e também problemas que saem da pele e podem acometer outros órgãos”, acrescenta Gadens.
Melanoma é o câncer mais perigoso
O câncer de pele pode ser de dois tipos: melanoma e não melanoma. O melanoma é o mais raro e mais letal: são cerca de 8,4 mil casos por ano com 1,9 mil mortes, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer e do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde (Sim/MS). O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele em tons escuros, que podem mudar de cor, formato e tamanho, além de apresentar sangramentos. Apesar das pessoas de pele clara apresentarem mais riscos de desenvolverem a doença, o câncer de pele melanoma também pode acometer pessoas de pele negra, ainda que mais raramente.
Conceição Câmara, que também faz parte da SBD, explica que nos estágios mais avançados, a lesão aumenta a chance da doença se espalhar para outros órgãos, processo chamado de metástase, que diminui as possibilidades de cura. “Esse realmente é o mais temeroso porque dá metástase para outros órgãos, principalmente cérebro, pulmões, ossos”, explica. O prognóstico desse tipo de câncer pode ser considerado bom se detectado em sua fase inicial. Quando há detecção precoce da doença, as chances de cura são de mais de 90%.
O câncer de pele não melanoma é o mais frequente e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. Entre os tumores de pele, é o mais frequente e de menor mortalidade: por ano são registrados 176 mil novos casos e 2,6 mortes, segundo Inca e Sim/MS. De acordo com os médicos, as chances de cura são bastante expressivas quando é detectado precocemente. A patologia é mais comum em pessoas de pele clara e que se expõem constantemente ao sol ou que tenham histórico pessoal ou familiar de câncer de pele e doenças cutâneas.
“O não melanoma, a gente inclui os carcinomas que são muito mais frequentes, mas são em sua maioria menos agressivos. Se manifestam como uma lesão rosado, que vai tendo crescimento lento, que pode apresentar sangramento espontâneo ou por algum traumatismo. Aquela ferida que não cicatriza também pode ser um alerta para carcinoma”, detalha o dermatologista Guilherme Gadens.
Os cânceres de pele não melanoma podem ser de dois tipos: carcinoma basocelular (CBC) e carcinoma espinocelular (CEC). O primeiro é o mais prevalente e surge mais frequentemente em regiões expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Podem se desenvolver também nas áreas não expostas, ainda que mais raramente. Os CBCs aparecem como um nódulo avermelhado e brilhosa com uma crosta central, que pode sangrar com facilidade.
Já os CECs se manifestam nas regiões expostas ao sol com sinais de enrugamento, mudança na pigmentação e perda da elasticidade da pele. Segundo a SBD, alguns casos da doença estão relacionados a feridas crônicas e cicatrizes, uso de drogas e exposição a químicos ou radiação. Normalmente, os CECs têm coloração avermelhada e se apresentam na forma de machucados ou feridas espessas, que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. Eles podem ter aparência similar a verrugas.
Especialistas detalham cuidados
A proteção física contra a radiação solar é imprescindível para evitar desenvolver a doença, segundo os médicos. Roupas de bloqueio de raios solares, óculos, viseiras e, principalmente, protetor solar são aliados importantes contra o câncer de pele. “Hoje em dia, a gente até brinca: ‘só tem quem quer’, porque evoluímos muito nessa questão da proteção. Está a informação, está aí o filtro solar. As viseiras, camisas de proteção solar, usar um fator alto e reaplicar porque muita gente usa um fator 100, mas passa o dia todo na piscina ou no mar e o protetor sai, então é preciso reaplicar a cada uma hora e meia, quando você se molha ou sua”, pontua Conceição Câmara.
Outro elemento que pode prevenir o agravamento dos casos é o autoexame, considerado um processo complementar de diagnóstico. No entanto, nenhum procedimento caseiro substitui a avaliação profissional.
“O indicado é que o paciente se autoexamine mensalmente, a cada dois ou três meses, em um ambiente iluminado e nus porque as lesões podem estar em regiões abaixo do sutiã, perto da cueca ou calcinha. Aquela pinta que mude de cor, tamanho, que coce, sangue ou qualquer alteração daquele sinal deve chamar a atenção dos pacientes, que devem se dirigir até um dermatologista para um diagnóstico preciso”, destaca Câmara.
Somente um exame clínico feito por um médico especializado poderá confirmar ou descartar o diagnóstico de câncer de pele. Além disso, são os médicos que indicam o tratamento adequado conforme a necessidade de cada paciente. Os diferentes tipos de cânceres de pele são tratados com diversas técnicas. Os mais comuns são cirurgias de remoção de tumores com bisturi ou congelamento com nitrogênio, raspagem de lesões, terapias fotodinâmicas com ácidos, entre outras.
Por Tribuna do Norte